A opção sexual para muitos indivíduos é uma escolha ao longo da vida, mas para Emilly Marchinelly, 27anos, travesti. Emilly faz programa no centro de Taguatinga, e diz que não é bem assim. “Fui violentada quando criança, isto é o que acontece com a maioria dos travestis, gays e normalmente são violentadas ainda quando crianças pelos próprios parentes”, declara.
Em Brasília, como em qualquer outra cidade as chances no mercado de trabalho para travestis são mínimas. Segundo Emilly, as pessoas são bastante preconceituosas e a rejeição é certa. “O que me fez entrar nessa vida de prostituição foi à falta de oportunidade no mercado de trabalho”, reclama.
Muitos travestis sofrem preconceitos por parte da sociedade, como afirma Jacques de Jesus, presidente da primeira Federação da Lésbicas, Gays, bissexuais e transexuais LGBT do Brasil que zela pelos direitos e cidadania dos travestis. “Temos muito o que avançar. O mercado de trabalho ainda fecha as portas principalmente para os travestis, por serem eles, talvez, os mais esteriotipados do segmento homossexual”. Afirmou.
Segundo Marchinelly, a vida de travesti não é fácil. “Ser gay é difícil, ser travesti é muito complicado, travesti é mais ousado tem quer ter pernas grossas bunda largas e seios grandes”, declara.
Os Travestis em sua maioria são vaidosos, principalmente, com o corpo. “Tenho no total cinco cirurgias em meu corpo, no meu rosto tenho preenchimento facial e duas cirurgia no nariz. Sou toda transformada”.
Para manter todo um padrão é preciso ganhar um bom dinheiro, segundo Emilly, ao final do mês chega a ganhar cerca de três mil reais, com programas realizados. Por outro lado, é uma profissão muito perigosa, a violência e os riscos com a saúde são constantes. “Já apanhei muito de meus clientes, vários homens estão drogados ou muito bêbados”, afirma.
Outra personagem dessa reportagem que vive as mesmas situações que Emilly; é Rafaella Delamari, ela mora com a mãe e o padrasto numa casa simples no Recanto das Emas. Ela alega que não trabalha anda sempre à procura de emprego, mas não consegue preencher a vaga.“Envio o currículo geralmente por e-mail, quando sou chamada para a entrevista, muitos se assustam porque no lugar de Rafael, surge uma moça. Por mais qualificada que eu seja, não encontro um emprego”, afirmou.
Ela não faz programas e sonha em trabalhar como qualquer cidadão. Rafaela conta que foi obrigada a trancar o curso de Turismo numa faculdade privada no sétimo semestre por não ter conseguido nenhuma vaga para fazer o estágio obrigatório.
As duas entrevistadas concluem que as dificuldades no mercado de trabalho, levam muitos deles a se prostituírem, sendo importante a extinção dos preconceitos e discriminações.
Já Samantha- pé na jaca, ( é assim que é conhecida e gosta de ser chamada.), tem 32 anos, foi abusada quando criança, e aos 20 foi violentada por quatro rapazes no Parque da Cidade. Com pouco estudo, só concluiu o ensino fundamental, Samantha trabalha como diarista. Se considera boa empregada lava, passa, faz faxina. O valor de sua diária varia entre R$ 35 e R$ 50 reais por dia.
De acordo com o Sindicato das Empregadas Domésticas, está cada vez mais comum donas de casa , optarem pela contratação desses profissionais. Dona Ivone Medeiros, mora na Asa Norte e contrata os serviços de um travesti e se diz satisfeita “Eles são profissionais, dedicados e muitas vezes são mais caprichosos que uma mulher” afirma ela que acredita que contratando estes profissionais está contribuindo para a inclusão deles no mercado de trabalho. Sua família, marido e filhos convivem bem com a situação, demonstrando não possuir nenhum preconceito. Do outro lado da cidade, dona Graça S . Souza , (nome fictício ) moradora de uma área nobre de Brasília, disse que não contrataria um travesti para trabalhos domésticos. Ela acredita que eles “ possam trazer posturas duvidosas para dentro de sua casa”. Questionada sobre o preconceito, ele se esquiva e afirma que “ Já ouvi falar que eles ingerem bebidas alcoólicas, são imprevisíveis e até roubam.”.
Leia abaixo, as declarações de outro profissional, agora do ramo da beleza e estética , tão comum no gênero.
Daniel tem 26 anos e prefere ser chamado de Dany Jambo. Ele exerce a profissão de cabeleira há 12 anos, atualmente é solteira.
Em relação a sua profissão ele diz “Escolhi trabalhar com salão de beleza por ser um ramo mais aceitável para travestis. O outro caminho seria me prostituir, algo que não seria bom para mim, penso em fazer um curso para aprofundar meus conhecimentos e me profissionalizar na área que já trabalho. Sou feliz na vida profissional, faço o que gosto". Em relação a ser travesti “Sou homossexual desde criança. apesar de ser meu sonho, não sou totalmente travesti, me transformo às vezes. Para que eu seja uma travesti completa eu tenho que me estabilizar primeiro, não pretendo colocar silicone, o corpo de mulher que consegui até hoje foi através de hormônios femininos e vou continuar usando. Eu sempre quis ser mulher, sonho em trocar de nome e de sexo também, para ser totalmente feliz na vida pessoal só me falta casar", afirma Daniel.
Preconceito
“Normalmente onde moro não sou discriminada, mas em outros lugares é frequente”.
Em relação ao seu sustento e estudo diz“O dinheiro que o salão me traz é uma quantia suficiente pra minha sobrevivência, mas para viver ainda não dá. Ainda não terminei o ensino médio por que se eu optar pelo estudo não vou ter tempo para trabalhar e se eu não trabalho eu não sobrevivo”.
Em relação à opinião de Emily “Acho que ser violentada quando criança não interfere na vida do travesti. Acho que na verdade todos já nascem assim (homossexuais)”.
Relacionamento com a família “Minha mãe me aceita como homossexual , mas como travesti é uma briga constante, já que me transformo. Apesar disso foi com ajuda dela que conseguir construir meu salão”.
Opinião “Todo mundo acha que travesti serve somente para fazer programa e isso é muito ruim pois fecha nossas chances no mercado de trabalho. As pessoas deveriam entender que somos capazes de exercer qualquer profissão”.
Segundo Jacques de Jesus, a I Conferência LGBT, realizada em Brasília em maio de 2008, discutiu todas as dificuldades enfrentadas não apenas com os travestis mas todos os segmentos da Homossexualidade no meio social.
E apesar da aprovação de algumas leis ainda falta muito para o preconceito ser banido do País. Visando esses objetivos, foi criado o Projeto “Brasil sem homofobia.
Além de ser presidente da Federação LGBT, é psicólogo, mestrando em sociologia pela UNB e homossexual assumido. Ele ministra palestras sobre o tema.
O mercado de trabalho é um assunto muito sério para os sexualmente diferentes e precisa ser abordado e discutido em todas as camadas sociais visando eliminação do preconceito.
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