Parte 1
por Rei dos Anjos.
O vento seco e sujo soprava nos quatro cantos da caatinga.
O sol castigava o chão rachado do sertão, e o que imperava era o poder dos grandes coronéis, poder que comandava paralelo ao da velha República no inicio do século XX.
A vida era dolorosa e sofrida para todos os viventes da região. E não era diferente para Geni e sua mãe, Dona Zenilda.
Geni, moça donzela, menina ingênua um poço de bondade. Era 1920, e Geni contava exatamente 15 anos de idade.Menina de beleza rara, beleza difícil de ver naqueles confins de terra seca. Cabelos sedosos, castanhos encaracolados e longos. Seus olhos eram cintilantes como o sol, menina de pele macia, apesar dos castigos da vida, um ar jovial a envolvia com o frescor da idade. Moça pobre, pouco sabia das letras e das ciências do mundo. Muito menos sabia da sua origem, do seu genitor, e isso era segredo que Dona Zenilda jamais poderia revelar a Geni. Zenilda, mulher vivida contava com seus 47 anos na terra, e infindáveis dias de labuta na lavoura, fazia um pouco de tudo para dar sustento sua única filha. Os calos nas mãos, as rugas no rosto foram conquistados no cabo da enxada, debaixo de sol infernal.Eram marcas que impunham respeito. Vivera sua mocidade trabalhando em casas de grandes coronéis, sendo explorada e abusada, sofreu agressões de todos os tipos. Quando engravidou de um desses senhores de posse, decidiu fugir e deixar aquela vida de exploração. Partiu numa madrugada escura, medonha e fria com uma filha no ventre e uma trouxa de roupas velhas na cabeça. Passado algum tempo nascera Geni, desde então viviam ali, em pequeno latifúndio que herdara de um finado companheiro.
Mas o inesperado terrível estava por vir. Algo que mudaria para sempre suas vidas, algo que faria o futuro encontrar o passado, reescrevendo uma nova estória...
Continua amanhã no próximo capitulo...
Parte II
Naquela tarde empoeirada, surgia no horizonte seco, Simão Bacamarte.
Um poderoso carrasco e cafetão, subordinado ao coronel Quirino. Vinha ele a mando do coronel, com a missão de tomar-lhes a terra. Dona Zenilda estava a cuidar da lavoura de feijão, enquanto Geni labutava com as cabras.
O medo se fez presente quando Dona Zenilda avistou a cavalaria. Eram dez jagunços montados, e a frente chefiava Simão Bacamarte.
Bacamarte, homem forte, alto famoso pela valentia. Um chapéu de couro escondia o rosto marcado à faca, homem de olhar duro, assim como seu trotear, vinha em um belo cavalo bem selado.
Fez sinal levantando a mão, ordenando aos jagunços que parassem. Os cavalos ficaram inertes em frente à Dona Zenilda- que olhava assustada- Bacamarte todo pomposo, com voz forte indagou:
- Estas terras é de vosmicê ?
- Sim sinhô. Desde quando meu marido se foi. Que Deus o tenha num bom lugar!
- Pois se então, junte seus picuás, suas trouxa e vá se daqui. Arreda o pé!
- Má num posso fazê isso não moço. Como hei de viver? Como hei de comer?
- Vosmicê não entendeu! Esta terra agora pertence ao Coroné Quirino.
Dona Zenilda hesitou a chorar, e por eternos segundos pensou ao ouvir aquele nome. Coronel Quirino, não era estranho aos seus ouvidos.Mas como poderia ser? Bacamarte prosseguiu com as ordens.
- Jagunços! Tire essa mulher da minha reta! Expulse dessa terra!
Quando os jagunços desceram dos cavalos para cumprir a ordem recebida; Geni surge correndo entre a plantação, vai de encontro a sua mãe.
- Mãezinha! Mãezinha! O que faz a cá estes homens?
- Veio tomar nosso lugar minha filha.
Geni implorou a Simão Bacamarte, ajoelhou-se diante dele com as mãos puxando suas vestes.
- Ô moço, faz isso com nós não, tem piedade.
O olhar daquele homem frio, sanguinário, havia se enchido de ternura diante do encanto da bela Geni. Havia um brilho diferente naqueles olhos tiranos. A beleza de Geni pôs por terra toda arrogância daquele jagunço. Que titubeando, manteve a dureza do oficio indagando Dona Zenilda.
- Quem é essa uma ai?
- É Geni, minha filha.
- Então nós há de fazer um trato...Vosmicê deixa eu levar sua fia com eu, e eu dexo vosmicê em paz com sua terra.
Dona Zenilda, sem saber o que fazer, desmanchou-se em pranto e desespero. Geni, percebendo que algo deveria ser feito, olhou para sua mãe e disse:
- Eu vou mãezinha. Pelo nosso bem, pois hei de voltar pra cuidar da sonhora.
Simão Bacamarte, apeado no seu cavalo, estendeu o braço a Geni, agarrou-a pela cintura, levantou-a até sua montaria.E num instante, sem olhar para trás, partiu.
Geni, por um momento olhou para trás, avistou sua mãe, que chorava de joelhos enterrados no chão, sumindo na poeira que cobriu o horizonte.
Continua no próximo capitulo...
Oi Renilton, bela história, é o tipo de livro que gosto de ler. parabens continue escrevendo que não vejo a hora de ler o proximo capitulo.
ResponderExcluirbjsss boa sorte.
clarice Barbosa
Cade o proximo capitulo? estou aguardadndo... bjsss
ResponderExcluirClarice Brabosa